sábado, 30 de outubro de 2010

Saresp

“Nota mais alta não é educação melhor” (Diane Ravitch)

O SARESP surgiu com a necessidade de um sistema de avaliação que mostrasse os resultados do ensino público estadual e a partir daí, seriam tomadas decisões de melhoria que incrementariam a capacitação dos professores e demais profissionais relacionados à área da educação. Mas, na verdade, o que vemos nessa avaliação é o surgimento de índices que podem ser utilizados como propaganda eleitoral, anunciando falsamente uma grande melhoria do fantástico ensino público estadual. Também não é comentado o fato de que os professores recebem um bônus proporcional ao resultado que os seus alunos tiveram na prova, que pode chegar a até 2,9 salários mínimos. Por conta desse bônus é possível ver escolas que até selecionam os melhores alunos, mascarando todos os problemas no ensino.

Esse tipo de sistema avaliativo foi criado por Diane Ravitch, secretária-adjunta de educação dos Estados Unidos, e é baseado em metas, testes padronizados e responsabilização dos professores pelo desempenho do aluno. No entanto, há algum tempo esta mesma mulher publicou um livro no qual criticava o sistema que havia criado, dizendo que ele somente prepara os alunos para as avaliações, ao invés de ajudar no real aprendizado dos conhecimentos.

Podemos concluir que este método de avaliação transforma a instituição escolar em algo burocrático que ignora o sentido do ensino fazendo os professores serem, na verdade, treinadores para exames e retira o papel da escola de fazer dos alunos cidadãos com uma perspectiva crítica e libertadora.

No ano passado o Governo do Estado de São Paulo incluiu as ETEs entre as escolas públicas estaduais que participam do Saresp. Isso foi visto pelos alunos como interesse eleitoreiro, e manifestações estudantis de boicote ao Saresp tiveram força principalmente nas ETEs Guaracy Silveira, Albert Einstein, Carlos de Campos e a ETESP. 

No dia 17/11 haverá Saresp de novo nas ETEs, para os terceiros anos do Ensino Médio, e nós, estudantes, não podemos retroceder nesta luta pela educação!

Eleição

Acho válido: http://incautosdoontem.opsblog.org/

(Letícia Benetti, 2 épsilon)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Acídia Mental

_____Quero lhes falar de outra desprezível comédia. Esta mais doença que graça abunda-se como epidêmico vírus que, de tão comum ou tão vergonhoso, faz-nos querer pensar que é congênito. Incansável, persegue a humanidade desde os primórdios, e mesmo após exposto seus vexaminosos sintomas, faz-se hoje ainda mais presente. Dizem ser mal de loira, ou de português, mas creio existir muitos outros partícipes deste escárnio. Refiro-me ao desprezo crônico ao conhecimento e o consequente amor a estultícia. O leitor ainda não contagiado, certamente já percebeu que quando deixamos de lado por um instante as fugacidades levianas da vida e nos dignamos a refletir acerca de alguma questão relativamente profunda, é raro encontrarmos um ouvinte que não responda um contratante “legal”, que de tão vazio rouba-nos a motivação.

_____Para os infelizes enfermos deste mal qualquer conjectura é sobremodo inútil. Do que lhes valeria o refletir se suas tediosas vidas se limitam a trabalhar, comer e dormir? (Tendo em vista a vida dessas, compreendo agora que não pensar priva-lhes do grande sofrimento de uma autoanálise) É por motivo de extrema necessidade, seja para o mercado de trabalho ou para escola, que murmurantes buscam algum conhecimento. Visando sempre o específico, limitam-se ao mínimo possível de exposição, como se corressem risco de morte. Estes odeiam os filósofos, fogem dos poetas, queimam livros e correm para suas igrejas, ligam suas televisões e acompanham a igualmente infeliz vida de seus ídolos. São uns hedonistas policiados por uma moral inquestionada.

_____O conhecimento lhes perdeu seu valor. Já não lhes importa mais o porquê das coisas. Os mistérios não intrigam. A instigação foi substituída pela trivialidade e indiferença. A vida não é mais um milagre, nem a flor, nem os pássaros, nem tempo, nem espaço são um milagre*. A memória se perdeu e tudo tornou-se tão insípido que seus dias são conscientemente repetitivos.“Já sabemos tudo o que precisamos saber”, dizem eles e piscam os olhos, confortabilíssimos em suas verdades.**

_____Procrastinação mental! Assim vivem estes amantes da ignorância. Balbuciando o que orgulham chamar de conhecimento adquirido. Lendo curiosidade infâmes, e repetindo frases que não reverberam em sua oquidão. Vazios, deitados de boca aberta esperam que das frondosas árvores dos meios de comunicação, lhes escorra melados frutos de ciência. Porém os frutos que lhes caem são mais amargos no estômago que os do Éden! Pois além de os matar, não lhes tornam semelhantes a Deus.***

_____Mas isto os tornam engraçados, pois mesmo repudiando a ciência vivem com se soubessem de tudo. Já repararam como tudo é muito óbvio e simples? Para quê complicar? Se o leitor tiver um dor de cabeça, uma cólica, ou até uma dor muscular, rapidamente lhe dirão o que deve fazer. Não apenas enfermidades brandas, até o incurável torna-se curável na boca deles. Todos sabem por que a Seleção perdeu. Todo mundo sabe como emagrecer em três semanas. Quem não sabe como findará um julgamento num tribunal? (Se brincar, já sabem quem é o culpado antes das investigações! Claro! Como o leitor não sabia?!). Vá a qualquer mesa de bar, lá você encontrará PHDs em manutenção de relacionamentos, mestres na formação dos filhos, dicas de economia, onde investir na bolsa de valores e as novas concepções da Teoria das Super Cordas. É tudo tão claro, tão simples, tão Wikipédia. Que é vergonhoso dizer “não sei” ou “não entendo” ou ainda “não faz sentido para mim”. Pior! Os detentores da verdade não só a pregam babando com caras e bocas de orgulho, como as defendem como se estivesse defendendo a moral de suas próprias mães! Se você tiver a insensatez de dizer um simples: “Não concordo” acabará entrando numa batalha épica acrescidas de gritos, tapas no ar, xingamento e até violência, como se a vida deles dependesse de seu convencimento/conversação. Imagino que tal desespero deve-se ao mútuo conhecimento de que não fazem a menor ideia do que estão tentando falar, com seus grunhidos.

_____E como se justifica todo esse místico saber? Com o aumento crescente de fontes de informação maciças e fáceis, perdemos o contato com a reflexão e a pesquisa em nossa formação. O estudo tonou-se algo enfadonho, perdendo lugar para os mercados de lazer e entretenimento. Hoje consideramos informação um sinônimo perfeito de conhecimento. Desprezando o fato do segundo exigir aplicados anos de esforço. Nesta acídia mental terceirizamos o serviço de pensar.

_____Acha que os doutores ou os mestres se salvam? Dentre eles estão os culpados da mais alta traição ao amor do saber. São seres cujos esforços buscam a promoção de seus egos. Olham uns para os outros com inveja, temendo serem considerados inferiores. Dormem pensando em quem esta fazendo mais sucesso. Se eles detêm algum conhecimento, este é inversamente proporcional a sua sabedoria.

_____Se existe culpa nesta desprezível realidade, esta se estende aos artistas, cientistas ou filósofos. Pois todas as observações da natureza, pesquisas científicas ou reflexões artísticas foram capitalizadas. Pela prática compra-se comprovantes de conhecimento, que sustentados em pilares dourados desmotivam o autodidata. Oh! Hipócrita monarquia intelectual, que fazes a ti mesma elite resguardada por academias de concorrência medrosa. És também culpada por gerar toda essa indolência.

_____Este texto carece de conclusão, já está por demais extenso. Mas não falta aos dedos mais parágrafos de indignação. Portanto deixarei a cargo do caro leitor esta tarefa. Saúde!


* Preparação para a morte de Manuel Bandeira,

** Assim Falava Zaratustra, Prólogo de Zaratrustra 5 de Nietzsche.

*** Gênesis capitulo 3


Guilhermy Frah, 3º Alfa - 2009

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Chá Filosófico e Outros

Chá Filosófico.

No dia 3 de novembro, a primeira quarta-feira do mês, convidamos vocês para uma conversa agradável sobre assuntos interessantes (e vezes polêmicos) na praceta. O Chá Filosófico ocorrerá sempre nas primeiras e na terceiras Quartas-Feiras do mês, do Meio-Dia (12h) às 13h00. A discussão pode ser sobre um conto, um tema da atualidade, uma pintura, política ou o que der na telha, e nossa ideia inicial é que os participantes levem uma matéria de jornal para iniciarmos as conversas.

Divulgação do tema ocorrerá uma quarta-feira antes do encontro, via Jornalete.


Compareçam!


##

Outros encontros quinzenais ou em outros períodos podem acontecer. Dêem sugestões do que gostariam!


Deixo só uma pergunta para vocês: há interesse em encontros para desenhos em grupo depois da aula?



A ideia é similar ao Chá Filosófico; um tema (ou livre), um dia da semana, as pessoas se sentam pela praceta para descontrair um pouco e ter um tempo de ócio criativo. Cada um traria seu material, claro.
















Chibi, 1ºépsilon
Coordenadoria de Cultura

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Halloween

___A nova gestão do Grêmio iniciou-se há duas semanas, mas já tem planos para este semestre!
___Dentre eles, temos o início do Cinetesp, um projeto de exibição de filmes que surgiu na gestão passada, mas que queremos fazer funcionar realmente! E, para começarmos, propomos para vocês a Mostra de Cinema de Terror e Suspense, aproveitando o Halloween que chega em breve (31 de outubro). Essa mostra ocorrerá nos dias 25 e 27 de outubro, das 12h às 14h, na 15T, e nós contamos com a presença de vocês!

___Quais filmes serão exibidos?
___Isso depende de vocês, etespianos. Colocamos aqui na barra lateral do Jornalete Online uma enquete com os oito filmes pré-selecionados pelos integrantes do Grêmio. Desses oito, os dois mais votados participarão da Mostra, e postaremos aqui  os vencedores, juntamente com seus horários e datas. A votação se encerrará no dia 22 de outubro (sexta-feira).


Votem, participem, compareçam!

___Nossa lista de filmes:







quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Opinião

Antigamente, durante a última gestão, o grêmio do colégio mais me parecia uma luta para impor uma opinião política do que propriamente uma busca por melhorias na escola. É muito bom perceber que as coisas parecem estar mudando. Fico realmente feliz com todo o trabalho que o grêmio está tendo, com a preocupação pelo bem estar dos alunos do colégio e com a iniciativa do jornalete. Decidi enviar esse e-mail por pura satisfação ao ler o blog de vocês e para desejar boa sorte com tudo que vier pela frente (:

Aproveito para deixar um conto que gosto muito, da Clarice Lispector: http://www.releituras.com/clispector_amor.asp


Luísa Caron, 2° Beta, EM

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Especial SWU - Dia 3

Chegamos ao último dia de festival, que tem nomes de peso se apresentando não só nos palcos principais quanto no antes não mencionado Palco Oi Novo Som, que tem apresentações de Mombojó, Autoramas e Cansei De Ser Sexy. 

As atrações mais esperadas, provavelmente não só do dia, quanto do festival todo, são os indie-rockers do Pixies, Queens Of The Stone Age, Avenged Sevenfold, Incubus,  Yo La Tengo e Linkin Park.

Também tocam Alain Johannes (que tocou com o QOTSA entre 2005 e 2007), os brasileiros do Glória e os irmãos Cavalera, agora juntos novamente no Cavalera Conspiracy, além do beatboxer Rahzel, da banda sueca de glam metal Crashdïet e do DJ holandês Tiësto, que fecha o festival.

 

Cansei de Ser Sexy – “Move”

Yo La Tengo – “You Can’t Have It All”

Avenged Sevenfold – “Welcome To The Family”

Queens of the Stone Age – “Sick, Sick, Sick”

Linkin Park – “Irisdescent”

Gloria – “Anemia”

Cavalera Conspiracy – “Sanctuary”

Incubus - “Love Hurts”

Pixies – “Gigantic”


Enfim, acaba por aqui nossa pseudo-cobertura do festival. Espero que tenham gostado.

domingo, 10 de outubro de 2010

Especial SWU – Dia 2

E então, como sobreviveram ao dia 1? Como eu, assistindo Los Hermanos no Multishow enquanto chorava e cantava “eu seeeeeeei, é um doce te amaaaaaaar!”?  

Agora é hora de falar do dia em que teremos nos palcos principais a ilustre presença de Deus, também conhecido como Regina Spektor, pela primeira vez em terras brasileiras, e a segunda visita dos agora-lindos-porém-não-mais-tão-talentosos garotos do Kings Of Leon, que tocaram por aqui em 2005, no agora extinto Tim Festival. Além desses, que são provavelmente os nomes mais esperados do dia, o festival tem Dave Matthews Band, o cabo-verdiano Ilo Ferreira, a anteriormente relevante Joss Stone e Sublime With Rome, banda formada por Rome Ramirez e pelos integrantes da banda de ska Sublime após a morte de seu vocalista. O dia também conta com os nacionais Jota Quest, O Teatro Mágico e Capital Inicial. 

Então, mais vídeos:

Ilo Ferreira – “Let Me Love You”

O Teatro Mágico – “Camarada D’Água”

Jota Quest – “Tudo Me Faz Lembrar De Você”

Capital Inicial – “Depois Da Meia-Noite”

Sublime With Rome – “What I Got”

Regina Spektor  - “Poor Little Rich Boy”

Joss Stone – “Free Me”

Dave Matthews Band – “Funny The Way It Is”

Kings Of Leon – “Charmer”

 

 

(Esclarecimentos: eu adoro Kings Of Leon, só estou de mimimi porque não gostei do Only By The Night, e ainda estou com o pé atrás com o Come Around Sundown. Já quanto à Joss Stone... bem... ela realmente só foi relevante em 2006, com “Fell In Love With A Boy”).

sábado, 9 de outubro de 2010

Especial SWU – Dia 1

Alô você que, pelo ingresso baratinho, pela distância, pelos pais preocupados ou por medo da lama, não pode ir ao SWU, que começa hoje e vai até terça-feira, e que vai passar esse fim de semana pensando “poxa, deve estar tão legal por lá... ESPERO QUE CHOVA E QUE OS PALCOS CAIAM. MAS, CALMA! Nós do Jornalete te proporcionaremos um SWU no maior estilo forever alone: aqui você verá uma seleção de vídeos de apresentações ao vivo dos vários artistas que tocarão no festival e sentirá um pouquinho do que seria estar por lá. Se isso é bom ou ruim, aí já não sei te dizer. 

Começaremos com os maiores destaques do primeiro dia de festival, que tem o retorno de Los Hermanos aos palcos depois do hiato de quase três anos (tendo feito apenas um show durante esse tempo, na abertura da apresentação do Radiohead, em 2009), Rage Against The Machine e The Mars Volta, além da mais recente formação d’Os Mutantes, Black Drawing Chalks, Infectious Grooves, a banda de rock instrumental Macaco Bong e Brothers Of Brazil.

Aproveitem:

Rage Against The Machine – “Bulls On Parade”


Los Hermanos – “Retrato Pra Iaiá”

The Mars Volta – “Cotopaxi”

Os Mutantes – “Ando Meio Desligado”

Black Drawing Chalks – “Precious Stone”

Macaco Bong – “Fuck You Lady”

Brothers Of Brazil – “Samba Around The Clock”


E ai, deu pra matar a vontade? Ou só te deixou querendo ainda mais vê-los ao vivo?

Amanhã tem mais, tanto lá quanto aqui.

O Ovo

Você estava a caminho de casa quando você morreu.

Foi um acidente de carro. Nada particularmente memorável, mas fatal de qualquer forma. Você deixou uma esposa e dois filhos. Foi uma morte sem dor. O resgate tentou o melhor pra te salvar, mas sem sucesso. Seu corpo estava tão completamente quebrado que foi melhor assim, confie em mim.

E foi ai que você me conheceu.

"O que... o que aconteceu?" você me perguntou. "Onde estou?"

"Você morreu." eu disse, de prontidão. Sem medir as palavras.

"Havia um... um caminhão e eu estava derrapando descontrolado..."

"É..." eu disse.

"Eu... eu morri?"

"Sim. Mas não se sinta mal. Todos morrem." eu disse.

Você olhou ao redor. Não havia nada. Apenas eu e você. "O que é este lugar?" Você perguntou. "Isso é o vida depois da morte?"

"Mais ou menos" eu disse.

"Você é deus?" você perguntou.

"Sim" eu respondi. "Eu sou deus."

"Meus filhos... minha esposa" você disse.

"E quanto a eles?"

"Eles ficarão bem?"

"Isso que eu gosto de ver" eu disse. "Você acabou de morrer e sua maior preocupação é sua família. Há uma coisa boa ai."

Você olhou para mim com fascínio. Para você, eu não me parecia com deus. Eu apenas parecia outro homem. Ou possivelmente uma mulher. Alguma figura com vaga autoridade, talvez. Mais uma professora de gramática que o todo-poderoso.

"Não se preocupe" eu disse. "Eles estarão bem. Seus filhos se lembrarão de você como perfeito em todos os sentidos. Eles não tiveram tempo de crescer e desrespeitá-lo. Sua mulher irá chorar por fora, mas estará aliviada secretamente. Para ser sincero, seu casamento estava desmoronando. Se serve de consolo, ela se sentirá muito culpada de se sentir aliviada."

"Ah..." você disse. "Então, o que acontece agora? Eu vou para o paraíso ou alguma coisa do tipo?"

"Nenhum dos dois" eu disse. "Você vai reencarnar."

"Ah..." você disse. "Então os hindus estavam certos"

"Todas as religiões estão certas na suas próprias maneiras," eu disse. "caminhe comigo."

Você me seguiu enquanto caminhávamos através do nada. "Onde estamos indo?"

"Nenhum lugar em particular," eu disse. "apenas é legal caminhar enquanto conversamos."

"E, qual o objetivo, então?" você perguntou. "Quando eu renascer, estarei zerado, certo? Um bebê. Então todas minhas experiências e tudo que eu fiz nesta vida não vão importar."

"Nem tanto!" eu disse. "Você tem por dentro todo conhecimento e experiências de todas suas vidas passadas. Você apenas não as lembra neste momento."

Eu parei de andar e coloquei as mãos no seu ombro. "Sua alma é mais magnífica, bonita e gigante do que você possa imaginar. Uma mente humana pode conter apenas uma pequena fração do que você realmente é. É como enfiar seu dedo em um copo de água para ver se esta quente ou fria. Você coloca uma pequena parte de você em um recipiente, e quando você tira você ganhou todas as experiências que ele tinha."

"Você tem sido humano pelos últimos 48 anos, então você ainda não esparramou pra fora toda a suam imensa consciência. Se caminhássemos por tempo suficiente, você começaria a se lembrar de tudo. Mas não há razão para fazer isso entre cada vida."

"Por quantas vidas eu estive reencarnando, então?"

"Ah, muitas. Muitas e muitas. E em muitas vidas diferentes." Eu disse. "E desta vez, você será uma lavradora chinesa em 540 d.C."

"Espere, o que?" você bravejou. "Você vai me mandar de volta ao passado?"

"Bem, acho que sim, tecnicamente. O tempo, como você conhece, existe apenas no seu universo. As coisas são diferentes de onde eu venho."

"De onde você vem?" você perguntou.

"Ah claro," eu expliquei. "Eu vim de outro lugar. Outro lugar. E existem outros como eu. Eu sei que você quer saber como é lá, mas honestamente você não entenderia."

"Ah," você disse, um pouco chateado. "Mas espere. Se eu reencarno em outros lugares no tempo, eu posso ter reencarnado em mim mesmo em algum ponto."

"Claro. Acontece o tempo todo. E com as duas vidas tem conhecimento de sua própria existência, você nem sabe que está acontecendo."

"Então qual o sentido de tudo isso?"

"Sério?" eu perguntei. "Sério que você esta me perguntando o sentido da vida? Isso não lhe parece um estereótipo?"

"Bom, é uma pergunta justa." você insistiu.

Eu te olhei nos olhos. "O sentido da vida, a razão que eu fiz esse universo inteiro, é para você se desenvolver."

"Você diz a humanidade? Você quer que a gente se desenvolva?"

"Não, apenas você. Eu fiz este universo inteiro pra você. Com cada nova vida você cresce e desenvolve um maior e melhor intelecto."

"Só eu? E todas as outras pessoas?"

"Não há outras pessoas," eu disse. "Neste universo, só há eu e você."

Você olhou surpreso pra mim. "Mas e todas as pessoas na terra..."

"Todos você. Encarnações deferentes de você."

"Espere! Eu sou todo mundo?!"

"Agora você esta entendendo," eu disse, com um tapinha nas costas de congratulações.

"Eu sou todo humano que já viveu?"

"Ou que irá viver, sim" completei.

"Sou Abraham Lincoln?"

"e você também é John Wilkes Booth*", adicionei.

"Eu sou Hitler?" você perguntou chocado.

"E os milhões que ele matou."

"Eu sou Jesus?"

"E você também é todos que seguiu ele."

Você ficou em silêncio.

"Toda vez que você mal a alguém," eu disse, "você estava fazendo mal a você mesmo. Toda bondade que você fez, você a você mesmo. Todo momento feliz ou triste vivido por qualquer humano, foi ou será vivido por você."

Você pensou por um longo tempo.

"Por quê?" você me perguntou. "Por que tudo isso?"

"Porque algum dia, você se tornará igual a mim. Por isso você é o que é. Você é minha criança."

"Uau!" você disse, incrédulo. "Você quer dizer que eu sou um deus?"

"Não. Ainda não. Você é um feto. Você ainda esta crescendo. Quando você tiver vivido toda vida humana do inicio ao fim, por todos os tempos, ai você terá crescido o suficiente para nascer."

"Então todo o universo," você disse, "é apenas..."

"Um ovo." eu respondi. "Agora é hora de você seguir para sua próxima vida."

E te mandei pelo seu caminho.

*John Wilkes Booth assassinou Abraham Lincoln.

Por: Andy Weir
Traduzido do site: http://www.galactanet.com/oneoff/theegg_mod.html
Thales, 2º Delta, EM

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Novas oficinas culturais abertas!



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Finalmente saiu a relação das novas oficinas culturais gratuitas! São mais de 50 atividades só no Centro Cultural Oswald de Andrade que, para os perdidos, fica há cerca de cinco minutos da ETESP, ali na Três Rios, em frente ao colégio Santa Inês, um pulo literalmente. Cursos de fotografia, história da arte, grafitti, teatro, dança, cinema e artes plásticas estão com as inscrições abertas desde o começo da semana, e aconselho os interessados a seguirem um pouco mais além do Bolachão logo que puderem, pois as vagas são limitadas e o prazo é curto.


A programação está linda!







Terumi Bisauchet, 2° gama, EM

Coordenadoris de Cultura

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Convite


Obs: prometo postar logo amanhã a versão com o número da sala do grêmio.

Chibi, 1º épsilon, EM
Coordenadoria de Cultura

Correio

Como vocês já bem sabem, este é um espaço a mais para os alunos da ETESP, organizado pelo Grêmio. As reuniões do Grêmio ocorrem às terças-feiras, 12h, no meio da praceta, e é aberta a todos, com igual direito a voz, e é ótimo que outros alunos além da diretoria do Grêmio estejam presentes. Porém, muitos estudantes não comparecem por falta de tempo, compromissos e até timidez. Assim, iniciamos nesta postagem a seção Correio.
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Como funcionará isso? Embora muitos nem saibam, há uma Sala do Grêmio, no prédio Ary Torres, ao lado da sala utilizada pelo 1º Gama. A ideia é que vocês deixem suas opiniões, sugestões, críticas, reivindicações, perguntas e afins em uma folha de papel, e passem por baixo da porta. Nós leremos sua "carta" e publicaremos a resposta aqui no Jornalete Online, além de levarmos suas ideias às reuniões e tentar torná-las possíveis. Outra forma de manifestar-se é deixar um comentário aqui no blog, ou mandar um e-mail para gremioetesp2010@gmail.com
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Lembrando que o Grêmio é um porta-voz dos alunos, e sempre precisa da participação dos alunos para, assim, poder representá-los realmente.


Helena Zelic, 1º Beta, EM
Coordenadora de Geral e Organização


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Homofobia na Etesp?

Se vocês esperavam que a resposta fosse NÃO, então lamento decepcioná-los. Pois a real resposta como devem imaginar é um horrível e sincero SIM.

Não é de hoje que esse tipo “singelo” de preconceito atinge os homossexuais ou bissexuais da escola.

Então nós pensamos: “Mas quando isso que eu não vi?!”. Olha galera, vocês já devem ter ouvido falar de que o preconceito se manifesta de uma forma bem discreta e silenciosa. E estou aqui para falar de alguns casos específicos que nos provam a maneira ridícula como ocorre essa repressão.

Um dos exemplos ocorreu há algum tempo. Na “Praceta” (por volta de 12h30), como de costume, podemos observar casais namorando (se beijando, se “pegando”, como preferirem), e
nesse dia em particular, havia três casais muito próximos uns dos outros. Estando eles na seguinte ordem: Menino + Menina / Menino + Menino / Menino + Menina. Pouco tempo depois
observamos um dos funcionários da escola se dirigindo diretamente para o casal homossexual, e eis as suas palavras: “Podem, por favor, parar com isso que vocês estão incomodando as pessoas”.

Bom, particularmente, não creio que esse “por favor” tenha sido mais do que apenas uma questão de pertinência. E as informações desse caso foram obtidas através de mais de uma testemunhas.

Outro caso, ocorrido recentemente. Um casal de meninas está na mesma situação, em um horário em que todos estão em aula, e onde não há ninguém para ser “incomodado”. E mais uma vez um funcionário da escola chama a atenção delas e lhes dirige a palavra, porém ao contrário do primeiro caso, essa funcionária fica nervosa e começa a tremer e seu olho a lacrimejar. Diz o quanto sente muito em ter que dizer isso, explica que infelizmente existem muitas pessoas preconceituosas nessa sociedade, e apenas pede para que as meninas tentem se esconder mais. E comenta que alguém (que não se sabe quem) queria ligar para os pais dessas garotas!

Qual o direito desse “ser” de ligar para os pais dessas meninas!
Pense nisso!

Sabemos muito bem do título conquistado pela Etesp de “escola liberal”, porque de qualquer forma, sabemos que temos muito menos restrições em relação a muitas coisas, se comparadas com quase todas as escolas de São Paulo. E diante disso podemos pensar que não faz sentido nenhum existir um preconceito que se torna cada vez mais ultrapassado no período em que vivemos.

Eu, pessoalmente, fico revoltada sim! Pois, mesmo que você não goste, ou de acordo com sua religião ou fé, você não aceite. É preciso ao menos RESPEITAR. E por que isso? Porque somos todos seres humanos, todos com sentimentos, sendo homossexuais ou heterossexuais, esse fato jamais mudará. E porque não quebrar barreiras e acabar com tabus desde já?! Nós que somos jovens, e somos detentores de uma mente muito mais “aberta”, podemos, e devemos nos atentar a isso.

Imagine se um(a) amigo(a) seu/sua te conta que é homossexual, como você reagiria? Você ignoraria toda a sua amizade em função de “algo que não aceita”? Reflita sobre isso...

Nada disso é um jogo. Tudo isso faz parte da vida. Tudo isso é a vida! Devemos desenvolver nosso censo crítico e acabar com TODAS as formas de preconceito, seja ela proveniente de cor, etnia, classe social ou opção sexual.


(Ps: “Proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo essas manifestações permitidas aos demais cidadãos e cidadãs, fica-se sujeito a reclusão de 2(dois) a 5(cinco) anos. E constituem efeito de condenação: I- A perda do cargo ou função pública, para o servidor público;” - Trecho da Lei n 7.716/1989)

OBS: Não foi citado nenhum nome, pois o objetivo desse texto não é fofocar e sim informar e buscar a consciência de cada um.


Fazer Nada

Olá, pessoas!
Eu fiquei sabendo do blog e resolvi mandar um texto que eu gosto muito.
Até mais.

Mayara, 2º Delta, EM
(http://www.poemassaotexturas.blogspot.com)

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FAZER NADA

Rubem Alves

A manhã está do jeito que eu gosto. Céu azul, ventinho frio. Logo bem cedinho convidou-me a fazer nada. Dar uma caminhada – não por razões de saúde, mas por puro prazer. Os ipês-rosa floriram antes do tempo – vocês já notaram? E não existe coisa mais linda que uma copa de ipê contra o céu azul. Cessam todos os pensamentos ansiosos e a gente fica possuído por pura gratidão de que a vida seja tão generosa em coisas belas. Ali, debaixo do ipê, não há nada que eu possa fazer. Não há nada que eu deva fazer. Qualquer ação minha seria supérflua. Pois como poderia eu melhorar o que já é perfeito?

Lembro-me das minhas primeiras lições de filosofia, de como eu me ri quando li que, para o Taoísmo, a felicidade suprema é aquilo a que dão o nome de Wu-Wei, fazer nada. Achei que eram doidos. Porque, naqueles tempos, eu era um ser ético que julgava que a ação era a coisa mais importante. Ainda não havia aprendido as lições do Paraíso – que quando se está diante da beleza só nos resta...fazer nada, gozar a felicidade que nos é oferecida.

Queria perguntar aos ipês das razões do seu equívoco. Será que, por acaso, não possuíam uma agenda? Pois, se possuíssem, saberiam que floração de ipê está agendada somente para o mês de julho. Qualquer um que preste atenção nos tempos da natureza sabe disto. Mas antes que fizesse minha pergunta tola ouvi, dentro de mim, a resposta que me dariam. Responderiam citando o místico medieval Ângelus Silésius, que dizia que as flores não têm porquês; florescem porque florescem. Pensei que seria bom se também nós fôssemos como as plantas, que nossas ações fossem um puro transbordar de vitalidade, uma pura explosão de uma beleza que cresceu por dentro e não mais por ser guardada. Sem razões, por puro prazer.

Mas aí olho para a mesa e um livro de capa verde me lembra que não vivo no Paraíso, que não tenho o direito de viver pelo prazer. Há deveres que me esperam. O que todos pedem de mim não é que eu floreça, como os ipês, mas que eu cumpra os meus deveres – muito embora eles me levem para bem longe da minha felicidade. Pois dever é isto: aquela voz que grita mais alto que minhas flores não nascidas – os meus desejos – e me obriga a fazer o que não quero. Pois, se eu quisesse, ela não precisaria gritar. Eu faria por puro prazer. E se grita, para me obrigar à obediência, é porque o que o dever ordena não é aquilo que a alma pede. Daí a sabedoria de dois versos de Fernando Pessoa. Primeiro, aquele em que diz: Ah, a frescura na face de não cumprir um dever! Desavergonhado, irresponsável, corruptor da juventude, deveria ser obrigado a tomar cicuta, como Sócrates! Não é nada disto. Ele só diz a verdade: só podemos ser felizes quando formos como os ipês; quando florescemos porque florescemos; quando ninguém nos ordena o que fazer, e o que fazemos é só um filho do prazer. E o outro verso, aquele em que diz que somos o intervalo entre o nosso desejo e aquilo que o desejo dos outros fez de nós.

No meu livro de capa verde estão escritos os desejos dos outros. Ele se chama agenda. Os meus desejos, não é preciso que ninguém me lembre deles. Não precisam ser escritos. Sei-os (isto mesmo, seios!) de cor. De cor que dizer no coração. Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno. Se preciso de agenda é porque não está no coração. Não é o meu desejo. É o desejo de um outro. Minha agenda me diz que devo deixar minha conversa com os ipês para depois, pois há deveres a serem cumpridos. E que eu devo me lembrar da primeira lição de moral ministrada a qualquer criança: primeiro a obrigação, depois a devoção; primeiro a agenda, depois o prazer; primeiro o desejo dos outros, depois o desejo da gente. Não é esta a base de toda a vida social? Uma pessoa boa, responsável, não é justamente esta que se esquece dos seus desejos e obedece os desejos de um outro – não importando que o outro more dentro dela mesma?

Ah! Muitas pessoas não têm uma alma. O que elas têm, no seu lugar, é uma agenda. Por isto serão incapazes de entender o que estou dizendo: em suas almas-agendas já não há lugar para o desejo. No lugar dos ipês existe apenas um imenso vazio. Há um vazio que é bom: vazio da fome (que faz lugar para o desejo de comer); vazios das mãos em concha (que faz lugar para a água que cai da bica); vazio dos braços (que faz lugar para o abraço); vazio da saudade (que faz lugar para a alegria do retorno).

Mas há vazio ruim que não faz lugar para coisa alguma, vazio-deserto, ermo onde moram os demônios. E este vazio, túmulo do desejo, precisa ser enchido de qualquer forma. Pois, se não o for, ali virá morar a ansiedade.

A ansiedade é o buraco deixado pelo desejo esquecido, o buraco de um coração que não mais existe: grito desesperado pedindo que desejo e coração voltem, para que se possa de novo gozar a beleza da copa do ipê contra o céu azul. Tão terrível é este vazio que vários rituais foram criados para se exorcizar os demônios que moram nele. Um deles é a minha agenda – e a agenda de todo mundo. Quando a ansiedade chega, basta ler as ordens que estão escritas, o buraco se enche de comandos, e se fica com a ilusão de que tudo está bem. E não é por isso que se trabalha tanto – da vassoura das donas de casa à bolsa de valores dos empresários? São todos iguais: lutam contra o mesmo medo do vazio.

“E vós, para quem a vida é trabalho e inquietação furiosos – não estais por demais cansados de viver? Não estais prontos para a pregação da morte? Todos vós para que o trabalho furioso é coisa querida – e também tudo o que seja rápido, novo e diferente – vós achais por demais pesado suportar a vós mesmos; vossa atividade é uma fuga, um desejo de vos esquecerdes de vós mesmos. Não tendes conteúdo suficiente em vós mesmos para esperar – e nem mesmo para o ócio” (Nietzsche).

Por isto ligamos as televisões, para encher o vazio; por isto passamos os domingos lendo jornais (mesmo enquanto nossos filhos brincam no balanço do parquinho), para encher o vazio; por isto não suportamos a idéia de um fim de semana ocioso, sem fazer nada (já na segunda-feira se pergunta: “E no próximo fim de semana, que é que vamos fazer?”); por isto até a praia se enche de atividade frenética, pois temos medo dos pensamentos que poderiam nos visitar na calma contemplação da eternidade do mar, que não se cansa nunca de fazer a mesma coisa.

Certos estão os taoístas: a felicidade suprema é o Wu-Wei, fazer nada. Porque só podem se entregar às delícias da contemplação aqueles que fizeram as pazes com a vida e não se esqueceram dos seus próprios desejos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Peça na Bienal!


Pessoal, gostaria de convidar vocês para assistirem uma peça!

O Bailado do deus morto, de Flávio de Carvalho
Dia: 8/10/2010 (essa sexta-feira, hehe)
Horário: 20h
Local: Bienal de Artes de São Paulo, (fica dentro do Parque Ibirapuera)
Entrada Gratuita!
*Estou no elenco!

Beeeijos!

(Letícia Benetti, 2º Épsilon)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Evidentia

Os muito sensatos que me perdoem, mas loucura é fundamental.






Numa daquelas conversas sobre orgasmos artísticos, com minha amiga e esposa Amanda Guedes, que passeiam por Strokes, Vinicius de Moraes, Beirut e por nós mesmas (por que não?), veio à pauta uma mulher digna de nota.

Francesa, 45 anos, bailarina. Existe aquela ideia de que carreira de bailarino clássico dura pouco; é até verdade. De que aos 45 anos já se deve estar aposentado ou dando aulas aos seus sucessores. Mas isso não é nem de longe, ou de muito longe, aplicável à mulher de corpo magro, esguio, ágil, flexível, expressivo e de controle e possibilidades impressionantes.

Da primeira vez que tive contato com seu trabalho, confesso que não o compreendi muito bem; ele permaneceu algo vago e misterioso. Percebi, porém, que era profundo, profundo demais para que eu pudesse traduzi-lo. Resultou em frustração, porque sabia que dali muito se podia tirar. Intrigante.
Era bem mais do que se via. Ou era simplesmente o que se via.
Espantoso, hipnótico.

E, há um ano, foi com esse discurso, num inglês afrancesado que transcrevi com certa dificuldade, que me atingiram suas palavras pela primeira vez:

“Acho que você precisa ser louco para ir para o palco, sério, porque... todos os loucos são completamente normais, eu não sei. Talvez as pessoas de fora que são loucas. Não ser louco evita muita... liberdade. Duas pessoas realmente loucas conversando uma com a outra, quero dizer, mesmo que elas falem línguas diferentes, se compreendem."

Tal efeito o do trabalho, tal efeito o do discurso.
Um ano se passou, minhas atenções foram pra outros cantos, e acabou que me lembrei dela: fui ouvir novamente suas palavras e assistir à sua arte outra vez. Desta vez, busquei algo mais; não ficaria apenas com o aperitivo.

“Tem a ver com amor, tem a ver com paixão, e a maioria dos profissionais se esquece disso.”

Então, ela faz arte, e a faz com amor? Como se reúne e faz-se compreender e definir as duas coisas mais incompreensíveis e indefiníveis? Loucura.

“Para dar, produzir emoção você tem sempre que ser duvidoso sobre o que faz, sobre o que fará e o que fez também, porque duvidar e arriscar cria um momento de urgência para encontrar emoção real. (...) se você prepara muito, se você pensa muito sobre, todo o instinto, tudo de si mesmo (...) se esconderá em algum lugar, atrás da coreografia, atrás de todo esse tipo de coisa. Mas, se você duvida, você realmente coloca-se nu.
(...)
É importante temer ir ao palco, do contrário (...) você sabe exatamente o que funciona, o que não funciona, o quanto você tem que dar; fica fácil de fazer. Isso é arte, (...) cada vez que você dá um passo para o palco, é importante saber que isso é perigoso, que você tem que encontrar uma maneira de ir mais para dentro de si, mais profundamente a cada vez, pra encontrar e saber se você é capaz de dar mais; se você TEM mais em si.
(...)

Sinto muito prazer brincando com meu corpo e meus pés e minhas pernas e minhas costas, e pode até ser divertido... há tantas possibilidades para descobrir novos, bem, movimentos e expressões de si mesmo, e essa técnica pode também ser muito recompensadora.”

Ela é louca.

Mostrei esses dizeres para Amanda, que é também amiga de arte, de amor e de filosofia; logo em seguida, estávamos recitando declarações de amor para a tal bailarina pirada, felizes por não falarmos francês, mas ainda assim falarmos a língua de uma francesa em especial.

Sabe, isso tudo não é aplicável apenas à dança, tampouco apenas à arte. Quero fazer deste texto um convite e um incentivo pra que ninguém tenha mais medo de olhar para dentro de si mesmo e descobrir e explorar o que raios jaz por ali. Não se preocupe; por mais espantoso que seja, por mais doentio que pareça, por mais sem sentido que soe, por mais louco que aparente, calma! É apenas você. Ponha-se nu.
As possibilidades não são poucas.
Aja duas vezes antes de pensar. Planos são uma merda. Ideias de nada valem se a ação não corresponde.
Fique louco.

Confesso que eu mesma encontro obstáculos para seguir tudo o que nos disse a artista em questão (tenho problemas com planos...), mas tento. E, mesmo que eu tenha amadurecido e me explorado um pouco mais, ela continua sendo espantosa, hipnótica e intrigante. Talvez eu não seja louca o suficiente – ainda.

Pessoalmente, as tais coisas indefiníveis e incompreensíveis me ganharam nova cara, nova luz. Que amor, arte e loucura sejam intrínsecos; que o medo e o receio fiquem longe; que a sinceridade, o autoconhecimento, a liberdade, a emoção, a razão e as possibilidades sejam consequência.
Para todos!


1 bj admirado e agradecido à SYLVIE GUILLEM.

























"Vie et danse. Life et, and dance. Evidentia." (Vida e dança)

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Evidentia é um documentário feito por Sylvie em 1995, iniciado pela frase “Movement is life” (Movimento é vida). Tem 5 partes principais, mas a que escolho pôr aqui, embora recomende todas elas, é a parte 3 de Smoke (http://www.youtube.com/watch?v=PapxE1xTWM0). Pirem! (A parte que mais me agrada e arrepia é quando ela tira uma carta da boca, a lê, deixa cair e se olha no espelho.)


Giulia Confuorto, 2º Épsilon, EM
www.1-bj.blogspot.com