quarta-feira, 2 de março de 2011

Pé 41

As roupas numerosas da moça de 33 anos e pé 41 iam pro lixo uma a uma, naquele escarcéu debochado típico dos apresentadores do reality show. A moçona alta e grande e pé 41 usou roupa a vida inteira, mas, sabe-se lá como, não sabia se vestir. (Devia ser porque odiava aquele treco que segura as tetas embaixo da roupa e não deixa acender o farol.) Ria alto com voz grave de contralto, exibindo sorrisão alegre e ouvindo que malha marca as gordurinhas, listras horizontais engordam, que ai meu deus que saia horrorosa é essa e que era da altura da apresentadora, mas que esta não calçava 41, não, muito obrigada.
Depois da consultoria de moda, ganhou um cartãozinho vermelho cheio de dim dim pra gastar num montão de roupa bonita. Bacana, sorte a dela. Arrumou cabelo, passou maquiagem.
Largou o sorrisão alegre e mudou pra sorrisão de diva. Os apresentadores perguntaram como a linda se sentia. Renovada! Como assim? Outra pessoa, agora: bonita, feminina, segura, muito mais mulher; agora sou uma mulher.
Tadinha! Só aos 33?
O que não fazem um banho de roupa cara, uns cabelos falsos no cocoruto, a cara rebocada de Avon e um segurador de tetas, não?
(E eu, tão bobinha!, achando que, pra ser mulher, me bastava uma buceta!)


Giulia Confuorto de Castro, 3º Épsilon

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