quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ser cem por cento

Transformar a Educação

Era uma vez, um aluno de uma escola pública estadual que chamou seu amiguinho para cabular aquela aula chata de física – ou qualquer outra -; sentaram-se na simpática e mágica praça em frente a um dos prédios da escola e, revoltados, discutiam o quão absurdo era o fato de que um aluno de escola pública precisava fazer um quarto ano no cursinho, enquanto um aluno de escola particular tinha suas “necessidades acadêmicas”, aquelas impostas pelo vestibular, supridas em apenas três. E como a educação tava uma bosta, oh maldição. E todos viveram felizes, ou não, para sempre. Fim.

Essa história é fictícia e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Essa reflexão para a qual os convido agora foi fruto de nossas reuniões de organização do protesto contra o SARESP. Durante as mesmas, e até mesmo durante o protesto, freei meu desejo de agarrar o megafone e contar a historinha supracitada para todos ali presentes. Não queria arriscar acalmar os ânimos de tamanha mobilização em prol da educação, que é – não é necessário falar muito sobre isso; já sabemos – essencial.

Todos sabemos da qualidade da nossa escola. Não é preciso ressaltar que nossos professores – ou boa parte deles – estão sim interessados na nossa formação e que não querem simplesmente nos fazer ingressar na top universidade ou ganhar bônus do SARESP; basta observar que nos são disponíveis diversos cursos gratuitos extracurriculares, e que ainda existem, mesmo que não sejam todos, bons profissionais que, independentemente do salário ridículo e das más condições de trabalho, cumprem obrigações básicas como pontualidade, cumprimento da grade, suprimento de dúvidas e, claro, ensinam e educam.

Agora, eu afirmo abertamente que todo esse conhecimento e boa educação que nos estão escancarados não são devidamente aproveitados. Vê-se diariamente aluno na praceta, aluno que nunca leva o livro para a aula e aluno que não faz lição de casa (é, galera, pra aprender direito, tem que fazer tudo isso). Garanto que, mesmo com a melhor educação posta em todas as escolas, com os melhores professores, melhor material didático, melhor infraestrutura, sem a questionável decoreba de fórmulas e datas históricas, com um sistema que desenvolva a potência individual de cada aluno, aqueles com essa postura indiferente continuarão precisando do quarto ano no cursinho e a educação continuará uma bosta. É extremamente fácil culpar nosso mau desempenho na deficiência da escola, no descaso do governo e no desrespeito aos estudantes; estamos errados? Não, não estamos, mas vale lembrar que boa parte deles, estudantes, é deficiente, negligente e desrespeitosa com aquilo que lhes é oferecido. Claro: fazer com que queiramos estudar, aprender e estar dentro da sala de aula está inserido nas competências do bom professor, mas esperar que isso venha de fora e não de si é hipócrita e extramente incoerente com nossa reivindicação do dia 17.

Como foi muito bem colocado durante o protesto, a educação também é feita pelos alunos. Se queremos transformar a educação, que sejamos transformados primeiro. Também dito durante o ato pelo anarquista da bateria, devemos revolucionar o cotidiano, “cotidianizar” a revolução; eu assino embaixo e completo: mais vale uma pequena ação consciente no dia-a-dia do que um grito de protesto que não condiz com nossos atos. Já disse isso uma vez aqui, e vale a pena repetir, que ideias de nada valem se a ação não corresponde.

Um dos bons profissionais, com o comportamento que descrevi há pouco, dá aulas para minha turma e meu ano. Disse que, para podermos criticar algo que está deficiente, não podemos estar na mesma situação em relação às obrigações que nos cabem. “Tem que ser cem por cento”. E foi por essas pessoas cem por cento e por todos que podem sê-lo que me impostei contra o SARESP na última quarta-feira.

Creio que me fiz entendida. E, antes que digam “Giu, você cabula às vezes, não faz lição sempre e não leva livros nunca”, saibam que, se apontei meu dedo pra alguém, o primeiro que viu meu dedo foi o espelho. Propus me transformar e proponho pra quem estiver lendo. Vamos transformar a educação!

p.s.: meu sinceros agradecimentos a todos os que, mesmo ouvindo dos amigos, dos pais e de alguns professores que o ato não ia ter resultados, não desistiram e se apresentaram com muita energia. Muito obrigada.

(Giulia, segundo épsilon)




8 comentários:

  1. Ótimo post, realmente, não dá para simplesmente ignorar o descaso de muita gente.

    Se a pessoa se garante, prefiro não mexer muito com ela, mas existe muito aluno por aí que gastou uma vaga à toa e não faz uso dessa escola "top" como muita gente gosta de falar, enquanto tem gente fora que faria muito melhor se tivesse a oportunidade.

    Já passou da hora das pessoas se mancarem que escola não é só o social (e que as duas coisas podem conviver) e fazerem o mínimo esforço antes de reclamar de algum professor ou instituição.


    --
    aliás, diga-se de passagem que tem uma grande porcentagem de alunos de escola particular que vai por quarto ano de cursinho, isso não é mérito nosso não |D~

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  2. ótimo texto, Giu.

    ano passado, na sala de aula, o Trida fez uma comparação que grudou na minha cabeça e me atormenta sempre que penso em matar aula: a de que, ao fazermos isso, nos assemelhamos aos políticos corruptos, que fazem mau uso do dinheiro público.
    antes de apontar a falha do outro, temos que enxergar e corrigir as nossas próprias.

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  3. Você esquece que estudamos em um colégio com sistema de recuperação nulo e que tem poucas aulas de exatas. Quem tem dificuldade em fisica, quimica ou matematica está fudido na ETESP. Até o Maldonado fala que não da pra ensinar tudo porque só tem 2 aulas de fisica na ETESP.

    Não critique os alunos da praceta ou os "vagabundos" da ETESP sem conhecimento de causa. A maioria não leva a sério porque perdeu o interesse. Porque vai na aula de Fisica e não entende nada. E não tem um reforço a tarde ou a possibilidade de assistir novamente a aula mais em outra sala.

    Pegue os verdadeiros colégios top, e não o 119 do Brasil, e perceba que la existem politicas efetivas de recuperação, e não marcar uma prova no dia X e o aluno que se vire pra aprender. Sem falar no numero de aulas e na atenção pra cada aluno. Quem estuda na ETESP sabe que a maioria dos professores não faz nada pra recuperar um aluno I.

    Afinal, a culpa é do aluno, corpo docente é 10, escola é a melhor do estado. Tirei I em varias provas e nunca vi um professor ou a escola se preucupar em oferecer alguma ajuda pra que eu pudesse contornar minha dificuldade e prosseguir com a matéria.

    A ETESP tem aquela coisa de "Estilo Faculdade" aonde o aluno que se vire e que corra atras de tudo. Não entrega boletim no 4 bi, o aluno que vai atras da nota. O aluno que ve com o professor como vai ser a recuperação. O que a ETESP esquece é que o aluno da ETESP não está na faculdade.

    Não venha culpar os alunos pela posição 119 no Brasil, culpe o estado, a carga de aulas, o investimento. Busque conhecimento antes de escrever, a intenção foi boa mais o texto falho.

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  4. AHahahahahaha pronto, agora tão falando que eu culpo o aluno pela má educação.

    A questão, meu amigo, é: pra reclamar, você tem que ter uma postura que não dê motivos pra reclamações. Eu entendo perfeitamente bem o que quer dizer com a falta de interesse dos alunos em relação a algumas aulas; eu mesma acho algumas completamente improdutivas e vazias, mas eu preciso estar nelas pra poder me queixar depois, dizer "eu faço a minha parte e exijo que a parte dos profissionais a minha volta seja feita" e não me encontrar numa situação ninguém-faz-sua-parte. É uma questão de ter moral pra reclamar, entende?

    E outra: há sim professores interessados em nos ensinar e que tiram dúvidas sim e cumprem toda a parte ética da coisa. Será que todos os alunos "sugam" tudo isso desses professores?
    Então, a falta de dedicação é um agravante na educação, vinda ela de quem vier: alunos, professores, governo, enfim.

    Só acho hipócrita alguém - ninguém específico, ok? - não se dedicar e reclamar que a educação que recebe é falha. Fiz um convite para que nós enquanto estudantes façamos nossa parte.

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  5. A etesp forma pessoas com visão, o que você, pelo jeito, não tem!
    Você está muito certa, Giu. Ser cem por cento para exigir cem por cento!

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  6. A Giu é minha amiga... Mas Discordo 100% desse texto. =)
    http://www.youtube.com/user/GuilhermyFra#p/u/3/qjw2G898akg

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  7. Gostei muito do vídeo e concordo com o conteúdo dele, em relação ao sistema de ensino. Não devo ter deixado claro que também acho a escola escrota com valores inversos; há coisas mais importantes que deveriam ser ensinadas e que isso é um inimigo a ser combatido. O desejo de CONHECIMENTO não é incitado em nós, e tal tal tal, ponto no qual concordamos.

    Mas, em relação à necessidade de cursinho pra passar naquele curso difícil?

    Tem um trecho do seu vídeo do qual discordo: por mais abstrato que seja o conhecimento que nos passam - hoje mesmo tava fazendo lição de números complexos; abstração 100 fim -, ele é válido. Todo conhecimento é válido. Interessar-se apenas pela informação que formos usar concretamente é tolo e sem sentido (a própria vida é sem sentido ou finalidade). Quem o faz nega a arte, por exemplo.

    (vish, essa discussão pode ser looonga... =])

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